
O FACÍNORA DO KREMLIN – OS ASSASSINATOS
Estimado leitor: Como prometido na última edição, revelamos os assassinatos perpetrados a mando do ditador e sanguinário, Vladimir Putin. Assim, partilho convosco, a síntese possível, extraída da obra mencionada na fonte.
No verão de 2000, aconteceu algo revelador da verdadeira personalidade (temperamento e caráter) de Putin, como homem e como político!
Um submarino russo, o Kursk, em exercícios no mar de Barents, sofreu uma explosão, tendo-se afundado. Vinte e três submarinistas estavam vivos, mas presos no submarino. A NATO possuía o equipamento e os conhecimentos necessários para salvar os marinheiros, mas a resposta do Kremlin foi um silêncio ensurdecedor, até ao último deles morrer por falta de oxigénio (total desprezo pela vida humana e arrogância!). Putin estava e continuou de férias no mar Negro (indiferença perante o sofrimento!). Relatório secreto revelou: espantosas falhas de disciplina, equipamento fraco, obsoleto e descurado, e ainda, negligência, incompetência e má administração.
Em outubro de 2002, mais de 50 terroristas tchetchenos tomaram de assalto o teatro Dubrovka em Moscovo, fazendo 850 reféns, para exigir a retirada do exército russo da sua pátria. Em vez de negociar, as forças especiais russas gasearam o teatro, matando pelo menos 170 pessoas. Nenhuma investigação foi aberta para determinar as causas da tragédia. Quase todos os terroristas tchetchenos foram executados de imediato; nunca se concretizou uma investigação à natureza do gás letal, nem quem tomou a decisão de bombear um veneno químico para o interior do um espaço fechado e apinhado de gente inocente. Ainda hoje, persistem dúvidas sobre o cerco.
Primeira: como foi possível, que mais de 50 chechenos, armados com metralhadoras e coletes explosivos, tivessem atravessado Moscovo sem que tivessem sido parados pela polícia?
Segunda: por que razão os terroristas não fizeram explodir os seus coletes assim que detectaram o gás? Terceira, por que razão quase todos os terroristas foram executados?
Quarta, por que não existia um antídoto para o gás venenoso? O parlamento russo, dominado pelo Kremlin, rejeitou uma moção dos liberais-democratas para formar uma comissão a fim de investigar o cerco ao teatro; porém, uma investigação independente concluiu, que foram realmente terroristas chechenos a atacar o teatro, mas que tinham sido liderados e controlados pelo agente provocador do FSB (ex-KGB) Terkibayev.
Um dos promotores da investigação independente, Sergei Yushenkov, no regresso a casa em Moscovo, foi morto a tiro à porta do seu apartamento. O dossiê Terkibayev continha provas surpreendentes, muitas delas oriundas do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros checheno e combatente pela liberdade (anti-Kremlin), Akhmed Zakayev, sediado em Londres.
Passemos agora, às listas de gente crítica, contestatária e perigosa para Vladimir Putin, para o seu regime e acólitos, que selhe atravessaram no caminho e acabaram mortas. Primeira, os envenenados e que mais tarde vieram a morrer: Anatoly Sobchak, Yuri Sxhekochikhin, Lecha Islamov, Roman Tsepov, Anna Politkovskaya, Alexander Litvinenko, Badri Patarkatsishvili, Vladimir Kara-Murza, Emilian Gebrev, Sergei Skripal, Yula Skripal, agente Nick Bailey, Dawn Sturgess, Charlie Rowley, Alexei Navalny (este, foi envenenado quando em reclusão; morre em 16 de Fevereiro de 2024).
Segunda, os que foram mortos a tiro: Sergei Yushenkov, Anna Politkovskaya, Natasha Estemirova, Stanislav Markelov, Anastasia Baburova, Boris Nemtsov. Anna Polytkovskaya começou por ser envenenada e foi mais tarde alvejada.
Terceira: críticos de Putin, sofreram acidentes misteriosos de carro, de helicóptero ou de avião: Artyom Borovik era um repórter russo no rasto da história de Putin poder ter nascido um bastardo, que viveu os seus primeirosanos na Geórgia, ou Putin ser um pedófilo. No ano de 2000, quando viajava em um jato
privado, que descolava do aeroporto de Moscovo, despenhou-se, matando todos os nove ocupantes. O general Alexander Lebed, herói no Afeganistão e um potencial rival de Putin, morre num acidente de helicóptero ao despenhar-se na Sibéria em 2002. Khanpasha Terkibayev, o terrorista checheno, que com sorte conseguiu escapar do cerco ao teatro de Moscovo em 2002, teve o azar de morrer num acidente de viação na Chechénia. Stephen Curtis era o advogado da YUKOS cujo helicóptero novinho em folha e considerado extremamente seguro despenha-se ao aproximar-se do aeroporto de Bournemouth
(Inglaterra) em 2004. O último a morrer em acidente de aviação foi Yevgeny Prigozhin, chefe
dos mercenários – grupo Wagner -, em 23 de Agosto de 2024, dois meses após motim contra o
exército russo. O Boeing que transportava 298 pessoas, foi abatido a 17 de Julho de 2014 por um míssil terra-ar BUK russo. Hoje não restam dúvidas de que foi o exército russo a ter feito explodir o MH17.
Quarta: em 2000, Antonio Russo, jornalista italiano também no rasto da história de Putin, foi encontrado morto numa estrada não longe de uma base militar russa. Boris Berezovsky, oligarca russo, ter-se-á, supostamente, enforcado na sua casa perto de Ascot, no Berkshire (EUA), em 2013, mas ninguém que o conhecesse bem, acredita nisso. Em 2017 o repórter Nikolay Andruschenko morreu de ferimentos depois de ter sido agredido por atacantes misteriosos em São Petersburgo. Em 2018 três jornalistas russos que investigaram o Grupo Wagner de mercenários na República Centro-Africana – Kirill Radchenko, Alexander
Rastorguyev e Orkhan Dzhemal – foram assassinados, alegadamente por causa dos seus bens mas, nada de valor foi encontrado no veículo em que se faziam transportar. Também o chefe dos serviços secretos militares russos, o general Igor Korobov, pensa-se, que poderia ter sidovítima de Putin depois de a operação de Salisbury ter sido um fracasso.
Quinta lista: pessoas que caíram de janelas ou de varandas; o jornalista Ivan Sofronov, de 51 anos, que investigava a venda secreta de armas russas ao Irão e à Síria através da Bielorússia, caiu do seu apartamento no 5º. andar, em Moscovo, em 2007. A jornalista russa, Olga Kotovskaya, caiu do seu apartamento do 14º. andar em Kaliningrado em 2009. Scott Young caiu do 4º. andar do seu apartamento em Marylebone em Londres, em 2014. O jornalista russo Max Borodin caiu do seu apartamento no 5º. andar em Yekaterinburgo em 2018; entre muitas outras hediondas atrocidades.
“Estamos a correr descontroladamente de regresso ao abismo soviético, rumo a um vácuo de informação que anuncia a nossa morte pela nossa própria ignorância através da propaganda russa na televisão estatal. O que vemos é uma série de vozes a discutirem, por vezes, fervorosamente. Ninguém ousa afirmar que Putin é um gatuno (um ditador) e um assassino. O circo é rigidamente controlado pelos seus capangas”.
“Que Putin acabe por se envenenar a si próprio é um final digno de Shakespeare.”
Fonte: Sweeney, John, Assassino no Kremlin, Penguin Random House Grupo Editorial Portugal, Outubro de 2022.
Notas: a) Síntese, com base na obra supra, da responsabilidade do cronista;
b) John Sweeney é escritor e jornalista de investigação britânico, premiado.
Augusto Moita
Escrito para o jornal Correio do Cartaxo em 8 de outubro de 2025
