
CRÓNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA!
TODA A HONRA E GLÓRIA, NA TERRA E NO CÉU, PARA O PAPA FRANCISCO!
Estimado leitor: o pontificado e a morte do Papa Francisco constituirão marcos indeléveis nos anais da história universal deste primeiro quartel do século XXI (2001-2025).No pretérito dia 21 de abril, às 7:35 da manhã, na Casa de Santa Marta, no Vaticano (Roma), falece a mais insigne figura na história da Igreja e do mundo, o Papa Francisco – “o Papa que veio do fim do mundo” – aos 88 anos (1936-2025). Acordara às 6 da manhã, bem-disposto apesar da sua debilidade física. Vitimou-o um AVC e uma paragem cardíaca irreversível. De formahumilde e despretensiosa, presto o meu preito, nesta crónica, necessariamente laudatória, iniciando-a com a transcrição do que a Profª. Catedrática, Teresa Martinho Toldy, escreveu e, que subscrevo, sobre o Papa: “Francisco gostava da vida e gostava das pessoas! O seu pontificado, foi marcado desde o início pelo desejo de encontro com os anónimos, muitas vezes descartados, pisados, explorados. Esses estão no coração de Deus. E era disso que o Papa falava. Era isso que o Papa transformava em atos”. Também o Dr. Guilherme d’Oliveira Martins escreveu a propósito do desaparecimento do Papa Francisco: “Procurou mobilizar novas energias, apesar das dificuldades que sentiu e das atitudes corajosas que teve de tomar para limpar alguns sinais de acomodação e de abuso”. “O seu desejo era uma Igreja pobre, para e com os pobres. Uma Igreja que ele preferia suja, por tocar na realidade concreta, mais do que uma Igreja com as portas fechadas. Sonhava com essa Igreja. Queria essa Igreja. E queria que ela participasse na construção de um mundo em que todos tivessem lugar à mesa”.
Destaco do pontificado do Papa Francisco: a defesa intransigente de uma cultura respeitadora da liberdade, da responsabilidade, da dignidade humana, da humildade, do respeito, do amor ao próximo – independentemente da sua origem, raça, género, condição, orientação sexual, crença política e religião -, da empatia, da solidariedade, da caridade, do perdão, da inclusão, do ecumenismo e da paz. Tenho a “imagem” de um Papa Francisco, mais preocupado em fazer acontecer do que passar o tempo no seu gabinete emitindo normas (regras, decretos e legislação). O Papa Francisco pretendia que todas as Dioceses e Paróquias auscultassem os católicos, ouvindo-os, para que se consciencializassem dos problemas que os afetam enquanto pessoas e católicos e, as razões que os levam a distanciar-se da vida da sua comunidade religiosa. As JMJ – Jornadas da Juventude, Lisboa 2023, constituíram, na minha opinião, uma janela de oportunidade para a Igreja “abrir portas” e se aproximar dos católicos, motivando-os a participar na vida das suas comunidades. Recordo, ao estimado leitor, que em crónica de então (agosto de 2023), escrevi: no rescaldo das JMJ, deveriam os responsáveis eclesiásticos promover em cada diocese e/ou paróquia, colóquios ou encontros, de forma ativa e contínua, para o “chamamento” dos jovens e dos menos jovens, visando um propósito de vida alicerçada na fé, na humildade, nos princípios e valores do Cristianismo e das Sociedades, e em conjunto, refletirem sobre os problemas que os afligem e “buscarem” as soluções e os apoios possíveis; sensibilizando-os para os males que conspurcam as Sociedades e ensombram a Humanidade e que colocam em causa o seu próprio futuro. Era isto, segundo creio, que o Papa Francisco pugnava, apelando de forma holística ao contributo de cada um, no todo que constitui a Humanidade. Uma Igreja evangelizadora, próxima das pessoas, com “todos, todos, todos”! O que foi feito entretanto? Foi um Papa que pautou, sempre, a sua conduta por uma humildade e despojamento assinaláveis; nunca se deixou deslumbrar por capas de arminho, nem por sapatos Prada, nem por veículos de gama alta. Poucos dias antes de morrer, apareceu, “tal apóstolo de Cristo”, na Basílica de S. Pedro, numa cadeira de rodas, coberto por um simples poncho, descalço, sem solidéu e sem paramentos papais, prenunciando já, uma saúde periclitante. Fazendo jus à sua humildade, quis ficar sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, num discreto e modesto túmulo. Agora, é o tempo dos Cardeais! O Colégio dos Cardeais terá de eleger entre os seus pares, um novo Papa, através de um processo denominado Conclave. O próximo Papa deverá dar continuidade à “herança” do Papa Francisco, i.e., continuar com as reformas no Vaticano, nomeadamente de ordem financeira, iniciadas por Ele; deverá possuir, boa capacidade de liderança e conhecimento de todos os cantos da casa, sem ficar refém do sistema; boa capacidade de diplomacia em diálogo permanente com todos os atores políticos mundiais e não só, e interceder pelas minorias cristãs e pela paz no Médio Oriente, na Terra Santa, na Europa/Ásia e em África; deverá ter um registo absolutamente impoluto no que diz respeito ao tema dos abusos sexuais – não ter encoberto casos ou lidado mal com a problemática -; na defesa das minorias, dos indigentes, dos pecadores e dos desprotegidos. Portugal possui quatro Cardeais elegíveis: D. Américo Aguiar, D. António Marto, D. José Tolentino Mendonça e D. Manuel Clemente. Dos quatro, e na minha modesta opinião, D. José Tolentino Mendonça parece-me ser o melhor posicionado, pelas razões que passo a expor: é um intelectual (poeta e escritor e naturalmente, teólogo); superiormente inteligente e com formação biblista, exercendo o cargo de prefeito (equivalente a ministro) no Discatério (equivalente a Ministério) para a Cultura e a Educação, na Cúria Romana (equivalente a Governo), nomeado pelo Papa Francisco. Como senão, a sua juventude para o exercício do Papado, cerca de 60 anos de idade. Gostaria de ouvir: Habemus Papa, e proclamarem o nome de um português!
Augusto Moita
Escrito para o jornal Correio do Cartaxo em 3 de maio de 2025