Estimado leitor: ao apresentar-vos o destaque do mês de março, não posso deixar de reiterar, que não possuo qualquer filiação partidária! As minhas opiniões consubstanciam-se, naturalmente, na minha idiossincrasia e na perceção analítica dos acontecimentos políticos e, alicerçam-se na liberdade de expressão conferida pela Constituição mas também pelo respeito pela alteridade inerente a cada cidadão.

BASTARIA UM “MEA-CULPA” E UM PEDIDO DE DESCULPAS para que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, tivesse evitado uma crise política, tão incompreensível quanto desnecessária, e de que é o único responsável. Como é consabido, Luís Montenegro, tinha uma empresa, por si criada e naturalmente, indissociável do seu nome e das suas influências, a SPINUMVIVA, antes de regressar à política ativa, facto tão natural como perfeitamente legítimo e desejável – há mais vida para além da política –. Assumiu o cargo de primeiro-ministro não acumulando funções ou violando o dever de exclusividade, tendo contudo, esquecido que continuava a acumular rendimentos através de avenças recebidas da empresa, de que ele era, naturalmente, o beneficiário final.

De entre as avenças, incluía-se a de uma empresa usufrutuária de um contrato de concessão com o Estado, a casinos SOLVERDE, e cuja decisão de renovação dependia do Governo chefiado por Luís Montenegro, que enquanto líder, não pode verbalizar que não tem qualquer intervenção ou influência em qualquer matéria decisória provinda do Governo. Um primeiro-ministro é responsável por todas as decisões dos seus ministros, não podendo eximir-se delas (o contrário, é uma falácia!). Quando tentou emendar a mão fê-lo tardiamente e de nula eficácia jurídica ao proceder a cessões de quotas para a sua mulher, casados em regime de comunhão de adquiridos. Tardiamente, decidiu passar a empresa para os filhos do casal. O problema, no meu ponto de vista, não tem, objetivamente, relevância criminal, outrossim ética, que pressupõe o princípio da INTEGRIDADE, que em minha opinião, apresenta variáveis, a saber: a honestidade, a veracidade, a transparência, a humildade, o respeito e a dignidade. Variáveis, que percecionei, Luís Montenegro descurou ou então, assumiu-as com despudor, não esclarecendo cabalmente

a situação, quando teve mais do que uma oportunidade para o fazer, transformando assim, o que poderia ser uma situação perfeitamente aceitável e compreensível – BASTARIA TER ASSUMIDO,QUE AVALIOU COM LIGEIREZA E INCÚRIA A SITUAÇÃO, PEDINDO, HUMILDEMENTE, DESCULPAS -, em uma crescente e permanente suspeição (surgiu, entretanto, novo caso com a Câmara de Espinho)! Ao apresentar uma moção de confiança no Parlamento, cometeu outro erro grave, pois sabia de antemão, que a oposição votaria contra, e o Governo cairia. De nada valeram

as negociações no Parlamento para evitar, à última hora, a apresentação da moção de confiança, propondo que o PS desistisse da CPI ou, tentando negociar prazos incomportáveis para a conclusão da mesma; gerando nos portugueses um sentimento de incredulidade perante tamanha “infantilidade política”. Deveria sim, ter-se empenhado em negociar antes de a apresentar no Parlamento. Arrastou

e desgastou, desnecessariamente, outros governantes, que se disponibilizaram para uma acérrima apologia da sua ética, face a uma situação da sua exclusiva responsabilidade. E assim, estamos perante um novo dado, a ter em conta, no próximo ato eleitoral: A LEGITIMAÇÃO DA FALTA DE ÉTICA! Porque estou cônscio, que o povo não irá só votar em programas, escolher representantes e primeiro-ministro, mas também e de forma subliminar, “IRÁ VOTAR NA LEGITIMAÇÃO DA ANTIÉTICA”! Pressuposto, que o próprio candidato e atual primeiro-

ministro, se propõe validar/branquear através do “sufrágio”, se for reeleito para o cargo.

Inacreditável! E assim se faz política em Portugal. O mutismo e a inércia face a situações de corrupção e de falta de ética potenciam a descredibilização da política e afastam pessoas impolutas e competentes de cargos governativos e, dando azo ao aparecimento de “políticos de pacotilha” que se aproveitam dos cargos para obterem benefícios e privilégios pessoais e a grupos de apaniguados.

Augusto Moita

Escrito para o jornal Correio do Cartaxo em 3 de abril de 2025