
Opinião por: Paulo Geraldo
Vamos pela vida intercalando épocas de entusiasmo com épocas de desilusão. De vez em quando andamos inchados como velas e caminhamos velozes pelo mar do mundo; noutras ocasiões estamos murchos como folhas que o tempo engelhou. Temos períodos dourados, em que caminhamos sobre nuvens e tudo nos parece maravilhoso, e outros – tão cinzentos! – em que talvez nos apetecesse adormecer e ficar assim durante o tempo necessário para que tudo voltasse a ser belo.
Acontece a todos e constitui, sem dúvida, um sinal de imaturidade. Somos ainda crianças em muitos aspectos. Já devíamos ter aprendido que os entusiasmos não são, por natureza, duradouros.
Desejamos muito uma coisa, pensamos que se a alcançarmos obtemos uma espécie de paraíso, batemo-nos por ela com todas as forças. Mas quando, finalmente, obtemos o que tanto desejávamos, passamos por duas fases desconcertantes. A primeira é um medo terrível de perder o que conquistámos: porque conhecemos o que aconteceu anteriormente a outras pessoas em situações semelhantes à nossa; porque existe a morte, a doença, o roubo…
A segunda fase chega com o tempo e não costuma demorar muito: sucede que aquilo que obtivemos perde – lentamente ou de um dia para o outro – o encanto. Gasta-se o dourado, esboroa-se o algodão das nuvens. Aquilo já não nos proporciona um paraíso.
E é nesse momento que chega a desilusão, com todo o seu cortejo de possíveis consequências desagradáveis: podem passar-nos pela cabeça coisas como mudarmos de profissão, mudarmos de clube, trocarmos de automóvel ou de casa, divorciarmo-nos… É o desejo de partir atrás de outro entusiasmo: queremos voltar a amar…
Nunca mais conseguimos compreender o que é o amor!… O entusiasmo é uma ajuda para fazermos aquilo que nos parece ser bom e pode ser árduo. Não é o objectivo. Não é o ponto de chegada. Correr atrás de entusiasmos é fazer como a criança que se cansa de um jogo que jogou muitas vezes e o troca por outro. Mas nem tudo na vida deve ser um jogo.
Se nos desiludimos, a culpa não está nas coisas nem está nas outras pessoas. A culpa é nossa: porque nos deixámos iludir; porque nos deixámos levar por uma ilusão. A ilusão vestiu com uma roupagem excessiva e falsa a realidade, de modo a distorcê-la ou a fazê-la parecer mais do que aquilo que é.
Quando nos desiludimos não estamos a ser justos nem com as pessoas nem com as coisas, pois elas, pela sua própria natureza, não têm a capacidade de satisfazer plenamente o nosso desejo de bem, de felicidade, de beleza. Em primeiro lugar porque não são perfeitas – só a ilusão pode, temporariamente, fazer-nos ver nelas a perfeição. Depois, porque não são incorruptíveis nem duram para sempre: apodrecem, gastam-se, engelham-se, engordam, quebram-se, ganham rugas… terminam.
Aquilo que procuramos – faz parte da nossa estrutura, não o podemos evitar – é perfeito, não termina, não cansa. E não nos contentamos com menos de que isso. É por essa razão que nos desiludimos e que de novo nos iludimos: andamos à procura…
Paulo Jorge Geraldo
