
DESTAQUES DO MÊS DE JANEIRO
Estimado leitor: em destaque, dois acontecimentos do pretérito mês.
1. EÇA, TRASLADADO PARA O PANTEÃO NACIONAL: Os restos mortais de Eça de Queiroz foram trasladados no pretérito dia 8 de Janeiro, para o Panteão Nacional – criado por decreto de 26 de setembro de 1836 e instalado na Igreja de Santa Engrácia em Lisboa, desde 1 de dezembro de 1966 -. Houve uma cerimónia, junto ao Parlamento, onde atuou a Banda de Música e Fanfarra da GNR. Estiveram presentes o presidente da Assembleia da República (AR) e outras entidades da mesma. A urna do escritor português, coberta pela Bandeira Nacional, teve escolta de honra motorizada e ao som do Hino Nacional até ao Panteão, onde a aguardavam o primeiro-ministro, Luís Montenegro e o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Já no interior do Panteão, o maestro João Paulo Santos e a soprano, Sara Braga Simões, interpretaram o Hino Nacional. Seguiu-se a leitura de excertos de OS MAIAS e de outras obras do escritor. O elogio fúnebre foi realizado pelo trineto, Afonso Reis Cabral, que assinou o Termo de Sepultura do Panteão Nacional, após o que, a urna foi transportada pela GNR até à Área Tumular, onde ficou depositada. Foi a terceira vez que os restos mortais de Eça de Queiroz foram mudados postumamente de morada, sendo que, a última, se verificou do cemitério de Santa Cruz do Douro em Baião para o Panteão Nacional em Lisboa. A segunda trasladação verificou-se em 1989, do cemitério do Alto de S. João em Lisboa – primeira morada – para o jazigo de família no cemitério de Santa Cruz do Douro em Baião.
José Maria de Eça de Queiroz – nasceu em 25 de novembro de 1845, na Póvoa de Varzim, e faleceu em Paris, em 16 de agosto de 1900. Escritor, advogado, jornalista e diplomata. É considerado o maior romancista realista português, de sempre. Utilizou o pseudónimo de Carlos Fradique Mendes em correspondência e cartas inéditas. Autor de uma vasta e notável obra, de onde destaco: “O Primo Basílio”, “Os Maias”, “A Relíquia”, “A Cidade e as Serras”, “O crime do Padre Amaro”, “Ilustre Casa de Ramires”, e “A Tragédia da Rua das Flores”, entre outras. Da leitura atenta da sua obra sobressaem os seguintes traços de personalidade: ironia, humor, pessimismo e coragem. Ler os seus livros é encontrar uma literatura de excelsa qualidade linguística, atual, disruptiva, audaz e extraordinariamente instigante, entusiasmante e intrigante (um deleite para quem lê), pelo descritivismo, antirromantismo (realismo), foco na atualidade, crítica sociopolítica incluindo à burguesia, análise crítica dos comportamentos coletivos e dos desviantes de membros do clero, análise psicológica e temática do adultério. E questiono-me: será que, Eça de Queiroz, se confrontado em vida, com a possibilidade de ser sepultado no Panteão Nacional, teria aceitado? Face à sua personalidade e idiossincrasia profundamente evidenciadas no seu legado literário, diria que não. Minha presunção! Contudo, reconheço que é dever da Pátria reconhecer os seus melhores filhos.
2. MANTENHO e ENFATIZO, o que escrevi sobre o 47o. Presidente dos EUA, Donald J. Trump, que tomou posse no pretérito dia 20 de janeiro. Trata-se de um homem despótico, jactancioso, inculto, vingativo e sem quaisquer limites éticos e morais, que tem uma ideologia fascista comlaivos neonazis – nacionalista (MAGA = Make America Great Again – Tornar a América Grande de Novo) e transacional (todas as relações se baseiam em interesses economicistas e nacionalistas) e que venera ditadores e privilegia oligarcas, e.g.: Elon Musk, nazi e apoiante da AfD (extrema-direita alemã) e, mentor de muitas das medidas preconizadas por Trump. Logo após a sua tomada de posse, promulgou: deportação em massa de imigrantes ilegais, sem pingo de humanidade, agrilhoados e algemados, à boa maneira esclavagista e também, a transferência para a Prisão/Base de Guantanamo, em Cuba, de ilegais e “criminosos”; perdão a 1500 pessoas que invadiram o Capitólio; acabar com a questão constitucional da cidadania por direito de nascença aos filhos de imigrantes; retirada da Organização Mundial de Saúde (OMS) e doAcordo Climático de Paris (ACP); imposição de novas tarifas aduaneiras ao Canadá, ao México(entretanto suspensas), à China e, presumivelmente, à EU; e, com a verborreia e o cretinismo que o caracteriza, declarou a intenção de: mudar o nome do Golfo do México; de “acautelar” osinteresses dos EUA no canal do Panamá; provocar o primeiro-ministro canadiano (propondo tornar-se o 51o. Estado Americano); ocupar a Faixa de Gaza e a Cisjordânia e também, de comprar a Gronelândia, apresentando como motivo, contrariar a expansão imperialista de Putin, no Atlântico Norte. A Gronelândia é um território semiautónomo da Dinamarca, onde os EUA mantêm uma base aérea e instalações navais. Se Putin atacasse a Gronelândia, o mecanismo de defesa coletiva da NATO (artigo 5o.), seria acionado. E falta consubstanciar a promessa de acabar com a guerra russo-ucraniana, em 24 horas? Penso que, irá propor a cedência do território ocupado pela Rússia como o caminho para alcançar a paz, o que constituirá uma via aberta para o expansionismo de Putin, e que, naturalmente, será inaceitável para a Ucrânia, sobretudo, sem que obtenha contrapartidas, nomeadamente a adesão à NATO (Kiev propõe suspender temporariamente em troca das armas nucleares retiradas da Ucrânia) e à UE, bem como, bem como a utilização de parte de Kursk, em território russo, que serviria como moeda de troca. Por outro lado, a Rússia de Putin também não estará interessada nessa proposta, pois o que “legitimou” a guerra, foi a desnazificação da Ucrânia e a sua não adesão à NATO, de forma definitiva. Como justificaria Putin ao seu povo, as centenas de milhares de vítimas da guerra, sobretudo jovens, e os sacrifícios impostos à sociedade russa como o preço a pagar por uma pequena parcela do território ucraniano, embora estratégica. Mantenho e enfatizo: a Rússia está em um beco sem saída e a “implosão” da sua economia (também pelas sanções) e a decorrente degradação e contestação social, pode a médio prazo ser uma realidade, pela impossibilidade de sustentar, por muito mais tempo, a máquina de guerra. Vejamos o que vão decidir os dois autocratas mais perigosos do mundo, perante a incapacidade e a inoperância da União Europeia.
Bibliografia (parágrafo 1): Saraiva, A. José e Lopes Óscar, História da Literatura Portuguesa, Porto Editora.
Augusto Moita
Escrito para o jornal Correio do Cartaxo em 5 de Fevereiro de 2025