
Opinião de Luís Arriaga no Correio do Cartaxo. Texto completo*
Cowboys and Indians
Ou… de quem tentou assassinar Donald Trump no passado Sábado, dia 13 de Julho de 2024.

Preâmbulo
Quando em 2011 eu entrava na fase final da redacção da minha futura tese de doutoramento em Ciências Políticas, tarefa posteriormente concluída já em Sydney (Austrália) e a que dei o título de “Será a Paz uma Ilusão?” (na sua versão não académica e posteriormente publicada em livro bilingue – Português e Inglês), solicitei uma reunião pessoal ao meu amigo Richard Betts, (na altura residente em Cascais), Engenheiro Aerospacial, reformado da NASA e participante no design e construção dos motores do foguetão Saturn que levou a Apollo XI à Lua, no sentido de tomar conhecimento desse meu trabalho com vista ao meu PhD em Ciências Políticas, e eventual interesse norte-americano na publicação desse Ensaio, em que propunha “um estímulo à meditação sobre a avaliação matemática da Conflitualidade com vista a um possível estabelecimento da Paz” (como honrosamente, igualmente sugerira o Professor Adriano Moreira, a quem eu também solicitara anteriormente uma opinião).
Na ocasião, o Eng.º Betts, após os encómios que muito me envaideceram e se ter mostrado disponível a redigir um breve Prefácio para a versão em inglês desse meu Ensaio, (que em Inglês ficou com o título “Could Peace Be an Illusion?”), sugeriu-me que lesse uma obra então recentemente editada por um grande especialista em Ciências Políticas seu compatriota, chamado George Friedman, autor de vários brilhantes livros, em especial um, que na altura destacou e cujo título é “The Next 100 Years – a forecast for the 21st Century” (Os Próximos 100 Anos – uma previsão para o Século 21), e onde o famoso analista político americano oferece uma lúcida análise sobre o que o século que agora vivemos, iria trazer de mudanças na “Real Politik” em todo o mundo, como iriam, a seu ver, irromper novos e graves conflitos, que nações iriam participar, quais as potências potenciais vencedoras, quais os prováveis grandes perdedores, que novas tecnologias iriam ser utilizadas, que consequências eventualmente se repercutiriam para anos vindouros, desenhando a História para os séculos seguintes.
E devo desde já esclarecer, que foi com enorme espanto que li a sua douta opinião sobre a política internacional usualmente praticada pelos Estados Unidos da América e que se funda não na Paz, mas exactamente na Guerra. De referir, por exemplo, que o número de generais de quatro estrelas no activo é de 43, enquanto na IIª Guerra eram apenas 7.
Com efeito, durante a maioria da sua história, os Estados Unidos da América viveram tempos de Guerra (quer interna, como externamente) e esse ambiente criou um DNA intrinsecamente ligado à Conflitualidade, ao ponto de a nação ter os seus fundamentos políticos totalmente vocacionados não para a Paz, mas exactamente para o oposto.
Ao contrário da quase totalidade dos outros países, a estratégia existencial Norte-Americana é baseada na Guerra, estando até a sua economia intimamente ligada à indústria das armas, numa permanente e incontornável interacção com tudo o que diz respeito à Guerra, num peso histórico que incrivelmente se pode considerar como acima dos 10% da sua história, da sua existência como país – a Guerra de 1812, a Guerra contra o México, a Guerra Civil, as Guerras Mundiais I e II, a Guerra da Coreia, a Guerra do Vietnam, a chamada Guerra Fria, a Guerra do Iraque, fazendo daquela nação um país que já não parece fazer sentido se não estiver em permanência, envolvido em grandes conflitos violentos.
Também simultaneamente, a NATO se não reformulou e readaptou aquando do final da chamada Guerra Fria, com a dissolução do Pacto de Varsóvia.
Factualmente a NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), supostamente uma organização eminentemente de defesa política e militar, passou a ser uma organização de Guerra expansionista, porventura braço armado dos ditos “Senhores da Guerra”.
Este indesmentível facto dá corpo à tese de que os Estados Unidos da América têm no seu DNA a Guerra, com tudo o que ela significa de bom, de mau, de menos mau, ou menos bom…
Nos parágrafos anteriores procurei contextualizar, para de forma sustentada apresentar agora a minha opinião sobre o atentado de Sábado, dia 13 de Julho de 2024.
Se te apontar a Lua não fiques a olhar para o meu dedo
Quem considerar analisar o poder Norte Americano terá de levar sempre em conta, o inerente e incontornável peso da indústria de Guerra, dos seus interventores armamentistas na condução dos destinos da sua Política Internacional e do supremo interesse que os industriais da Guerra, Militares e a Indústria da Defesa (“Military-Industrial Complex”), têm nos negócios que a mesma (qualquer que ela seja) desempenha nos destinos da nação.
Torna-se assim claro que a Paz não interessa à América enquanto nação.
Só a Guerra importa, só a Guerra conta na balança das conveniências e inconveniências estratégicas, nacionais e internacionais. Há, pois, que promover por todos os meios, mesmo recorrendo a mentiras, a divisão religiosa e cultural, fomentarem-se guerras, naturalmente longe dos Estados Unidos.
E obviamente quando se fala de negócios ligados à Guerra, teremos de ter em consideração que o peso económico do fabrico de armas de uso doméstico (as tais de que todos se queixam da facilidade na sua aquisição e do seu uso continuar teimosamente a ser permitido) é ridiculamente ínfimo quando comparado com as “vantagens” que o armamento militar de grande vulto permite, pois este é que tem efectiva importância equacionando os lucros na venda deste tipo de armamento.
O custo de uma bala não se compara ao custo de um míssil. Como o custo de um revolver não se compara ao custo de um tanque de guerra, ou de um lança mísseis. Como o custo de uma bicicleta, automóvel ou camião, se não comparam ao custo de um avião supersónico, ou o custo de uma fisga se não compara ao de um foguete que transporta uma ogiva nuclear.
E é nestas armas que assenta toda a diferença e a este nível que se discutem as estratégias e os devidos apoios aos diversos candidatos à Presidência do país!
São estes industriais das armas de Guerra que realmente mandam nos Estados Unidos (e os investidores associados, designadamente a Blackrock, a Vanguard e a State Street Corporation).
São eles que mandam no país, são eles que põem e dispõem, quem elegem os presidentes, os membros do Congresso, quem lhes impõe o ritmo da política, dos acordos e das grandes decisões internacionais.
E quando não estão satisfeitos, são eles quem os tira do poder, da Casa Branca, a bem, ou à força!
Foi assim, por exemplo em 22 de Novembro de 1963 quando, por causa de Cuba, eles decidiram assassinar John Fitzgerald Kennedy, que potencialmente os traiu, refreando e comprometendo um eminente conflito onde os imperialistas armamentistas depositavam grandes esperanças e esforços para iniciar uma Guerra que envolveria uma grande parte do mundo – entenda-se de potenciais compradores de armamento militar… Era também a intenção de JFK por termo à guerra do Vietnam.
Só que nessa ocasião o atirador escolhido (também jovem de 24 anos de idade – Lee Harvey Oswald) – estava bem treinado e em Dallas não falhou os tiros. Nessa ocasião ele ainda sobreviveu dois dias, findo os quais e antes que falasse, foi abatido posteriormente por Jack Ruby. E mesmo aqui, há alegações e documentários que indiciam de que terá havido um segundo atirador. De facto, o tiro fatal veio de frente. Isto comprovado pelo documentário do incidente. Quem mais terá estado envolvido? Quem investigou? Os mesmos, FBI e Secret Services, que falharam por incompetência, ou anuência, para que o atentado tenha sido nessa ocasião bem-sucedido. Quando forem tornados públicos estes ficheiros secretos, logo saberemos.
Pelo contrário, desta vez o assassino “escolhido” falhou os cinco disparos e nem lhe deram ocasião a que “bufasse”, tendo sido de imediato abatido – um tal Thomas Crooks de 20 anos de idade e supostamente estrategicamente feito “militante” dos Republicanos.
Houve seguramente uma “falha” no planeamento da segurança. Perímetro de segurança mal definido. Um edifício elevado que permitia visar o candidato a pouco mais de 120 ms. Até havia uma escada de acesso ao telhado do edifício não vigiado, utilizada pelo atirador.
Houve quem alertasse a polícia de que havia um atirador. Porque esperaram tanto tempo para reagir e controlar o atirador? Mais de 3 minutos. Porque não protegeram de imediato o Candidato? Incompetência? Conivência?. Espero que uma comissão isenta, fora dos Secret Services ou do FBI, possa em breve trazer à luz o que realmente aconteceu. Estes serviços vão ter muito que explicar…
Se poupado, o jovem Thomas ainda se punha a contar sobre quem o havia contratado… Calaram-no de imediato e ponto final!
É que Donald Trump, embora autorize a venda de pequenas e pouco lucrativas armas de uso interno, é um indomável defensor da Paz Internacional, impondo por diversos processos igualmente dogmáticos os tarados do costume – Putin, Xi Jin Ping, Kim Jong-Un…
Trump sai dos cânones e sendo um bem sucedido homem de negócios, desafia e enfrenta os “donos disto tudo” das grandes armas de Guerra. Desafia-os, faz-lhes frente e contraria-os.
Já pelo contrário, o decrépito Biden, Democrata dos sete costados, é um mole que permite aos armamentistas fazerem o que melhor lhes convenha, permitindo que conduzam de facto a seu prazer e conveniência a Política Internacional Norte Americana, levando os caminhos da Guerra para o lado mais perigoso do destino e obviamente dentro no mais profundo DNA americano. Quem parece controlar os desígnios da Casa Branca, são pessoas não eleitas, e Biden nem tem porventura consciência do que se está a passar.
Claro que agora, com o falhanço do jovem Thomas e com uma Convenção Republicana já realizada com todas as defesas devida e eficazmente montadas os “senhores da Guerra” tiveram de recolher as unhas e levá-los a terem de esperar por melhor altura, ou a resignar-se com uma eleição que contraria a estratégia dos Senhores da Guerra.
Porém, terá de haver um alerta total pois os Senhores da Guerra estão desesperados e poderão promover acções de consequências trágicas, utilizando a “proxi war” da Ucrânia-Rússia.
Trump foi vítima e vai aproveitar-se desse facto, até porque, (como alguém há dias bem me lembrava), o povo adora votar em vítimas e neste momento já não restam dúvidas – Trump vai ganhar e não só porque Biden está velho e senil, (talvez até se retire da “corrida” à Casa Branca), mas porque Trump surge aos olhos do seu eleitorado como um herói, um Deus que sobreviveu com a ajuda do Divino a um atentado a fazer lembrar os de John Kenndey e do seu irmão Robert, outro destemido defensor da Paz e da harmonia entre os povos.
Haverá seguramente um recrudescimento de um espírito de patriotismo nos Estados Unidos.
Espera-se que venha por bem…
Na História existem por vezes virtualidades que acontecem sem que ninguém as explique, para recolocar o destino na estrada do costume – a vitória do Bem em detrimento do Mal.
Desta vez, os Republicanos já podem cantar vitória!
Luis Arriaga
Politólogo e Jornalista, PhD em Ciências Políticas, antigo realizador/ Locutor da Rádio Renascença- RR
Brisbane, Queensland, Austrália
Aos 20 de Julho de 2024
*parte deste texto foi publicado no jornal Correio do Cartaxo, edição de Julho de 2024.