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Estimado leitor; no ano em que se comemora os quinhentos anos (?) do nascimento do grande poeta
português, Luís Vaz de Camões, não podia deixar de escrever uma crónica em que assinalasse a
efeméride e prestasse uma singela homenagem ao imortal poeta, relembrando aspetos relevantes da
sua vida, através de uma súmula biográfica. Nascido em 1524 ou 1525 (séc. XVI), desconhecendo-se o
dia e mês, provavelmente em Lisboa. Segundo um registo da Armada de 1550, atribui-lhe 25 anos, pelo
que o seu nascimento pode ter-se verificado em 1525 (500 anos em 2025). Contudo, as interrogações
quanto à data do seu nascimento persistem até aos dias de hoje, por falta de registos de época.
Proveniente de uma família da pequena nobreza, mas decadente e pobre, reconhecesse na sua obra
uma educação escolar que pode considerar-se esmerada para a época, talvez o curso de Artes em
Coimbra, então instalado em Santa Cruz. Quando jovem, orbitou em torno da aristocracia (talvez mesmo
a corte) e frequentou a boémia desregrada de Lisboa, tal como relata nas suas cartas privadas,
mostram-no envolvido em brigas noturnas entre bandos, com outros fidalgos arruaceiros e com
mulheres “fáceis” do Bairro Alto. É dado adquirido que a vida desassossegada e aventurosa,
desqualificou-o perante a nobreza e o meio intelectual e pseudointelectual da época, conduzindo-o à
ostracização. A sua baixa condição social (baixos proventos) obrigou-o, a optar pela carreira das armas
em detrimento da das letras. Combateu em Marrocos onde perdeu um olho, acontecimento que narrou
na sua obra. Sem recursos económicos, alistou-se para a Índia tendo só embarcado após o
cumprimento de prisão por, numa rixa, ter ferido um funcionário do Paço, em 1553. A sua estadia no
Oriente foi, naturalmente, atribulada, não só em Goa, como também no Golfo Pérsico, em Ternate, onde
desempenhou o cargo de provedor de defuntos e ausentes em Macau. Na costa da Conchinchina, na
foz do rio Mecão, ocorreu o naufrágio, onde perdeu todos os haveres e sua companheira chinesa,
Dinamene (sua ninfa aquática), salvando a nado o manuscrito d’Os Lusíadas (obra de poesia épica
narra os feitos heroicos de reis e de navegadores portugueses) episódio, também ele, relevado na obra
poética. Em Goa enredou-se em complicações que o levaram de novo à cadeia, devido sobre tudo, a
dívidas. Não lhe faltaram todavia altas conexões sociais, de que são exemplo: perante o Governador
Francisco Barreto representou o Auto do Filodemo; ao vice-rei D. Constantino de Bragança compôs
uma ode (poema de estilo particularmente elevado e solene) em que o defende contra críticas ou
censuras de que era objeto e promete-lhe a imortalidade nos seus versos. Teve ainda relações
amistosas com o vice-rei Francisco de Sousa Coutinho. Em 1567, quando, após tantos anos de estadia
no Oriente, as dificuldades económicas o afligiam, um amigo nomeado capitão para Moçambique
prometeu-lhe aí um emprego e adianta-lhe o pagamento das viagens. Dois anos depois (1569) regressa
a Lisboa, cujas viagens foram quotizadas por um grupo de amigos. Trazia na bagagem Os Lusíadas,
que logo tratou de editar; entretanto fora-lhe roubada uma coletânea de poesia lírica (género de poesia
subjetiva que exprime sentimentos), o Parnaso Lusitano. Após a publicação d’Os Lusíadas em 1572,
alcançou uma tença (subsídio) trienal, aliás modesta, e nem sempre paga a tempo e horas. Através da
sua obra épica, Camões adquiriu rápida celebridade e reconhecimento. Contudo, não tirou daí
quaisquer proveitos, sendo os últimos anos de vida de absoluta indigência. Faleceu no dia 10 de junho –
Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades – de 1579 ou 1580 (55 ou 56 anos). O seu funeral teve
de ser feito a expensas de uma instituição de beneficência, a Companhia dos Cortesãos. Em alguns
passos da obra, atribui Camões a responsabilidade da sua vida desregrada a amores infelizes,
nomeadamente por uma alta dama do Paço, presumivelmente D. Catarina de Ataíde ou a Infanta D.
Maria. A única coisa segura é que amores diversos e com finais “trágicos” desempenharam um papel
importante na vida do poeta, que poderia aplicar a si próprio o verso de Bernardim: «Fui e sou grande
amador.


1». Como escreveu August-Wilhelm Schlegel: “Camões, só por si, vale uma literatura inteira.”
1 –“ amador”, no sentido de ser um homem de amores assolapados.
Fonte: Saraiva, A. José e Lopes, Óscar: História da Literatura Portuguesa; Porto Editora.

Augusto Moita


Escrito para o jornal Correio do Cartaxo em 15 agosto 2024

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