
OPINIÃO
NOTA INTRODUTÓRIA: Que me perdoem os prezados leitores, mas no estado de fragilidade emocional em que me encontro, não consegui escrever para esta edição de outubro do vosso jornal regional, um artigo de opinião ou uma crónica social, outrossim dois poemas. O primeiro, ainda sobre o falecimento do meu querido filho primogénito, que intitulei “Dói-me a alma!” e, o segundo, que reputo de “Autorretrato” (autoconhecimento) e cujo objetivo é dar a conhecer o homem por detrás do
opinante/cronista e, que intitulei de “Solidão” e em que, alguns leitores poderão rever-se.
POEMA 1
AUGUSTO MOITA
Escrito em 22 novembro 2022
E ao trigésimo dia do teu falecimento, escrevi para ti, querido filho, o seguinte poema:
Nota preliminar: Este soneto apresenta a particularidade de incluir o seu título no início das quadras e dos tercetos.
DÓI-ME A ALMA!
I
(Dói-me a alma),
porque não estás entre nós, esta passou a clamar;
já que o coração está exangue de tão “ensanguentado!”
Sinto-me exausto de, perante Deus, tanto questionar
o porquê de, antes de mim, Ele, ao “etéreo” te ter elevado!
II
(Dói-me a alma),
porque assoberbado pela saudade, “preencho o meu vazio” no recordar;
e nem a fugacidade do tempo me alivia; vivo atormentado
pela descrença; perdi a Fé, e nem a Deus consigo mais apelar.
Só… anseio em cada manhã, o dia rapidamente passado!
III
(Dói-me a alma),
porque no meu dia-a-dia, já nada me apraz fazer e me recrimino,
sentimento pérfido de estar cometendo, em cada acto, um pecado “lesa filho.”
Não mais desfrutarei da vida, porque na angústia me amofino!
IV
(Dói-me a alma),
por jamais aceitar o facto de existir para além de ti, mesmo “tentando aceitar”
que a tua morte foi uma “inevitabilidade” esta, dilacera-me a alma.
E com os olhos marejados “te peço que Lhe perdões” amado filho; “eras tu que aqui deverias estar!”
AUGUSTO MOITA
Escrito em 07 setembro 2023
(30 dias depois…)
POEMA 2
SOLIDÃO (Assim eu sou/numa íntima e sublime felicidade!)
I
Solidão! Sempre omnipresente na inquietude do meu ser,
sombras de um passado de “ausência” parental, familiar e social,
que “moldou” a minha essência, em que alguns, poucos, me viram crescer,
outros porém, levianamente, “julgam-me” utópico, um ser “artificial,”
II
ignorando sentimentos e emoções, que não viram amadurecer!
Assim eu sou, como sempre fui! Exorcizando na minha escrita, natural
objeto primeiro da resultante de todas reflexões do meu viver.
Contudo… a assombração de vivências espúrias, por intemporal,
III
manifesta-se no meu mal-estar e na incapacidade de permanecer
à-vontade em certos ambientes do social,
sobretudo nos mundanos, ou em outros que aparentam ser,
onde sou sensível ao poder de uns sobre os outros; manancial
IV
da “Divina Comédia” Humana: prosápia, inveja, mesquinhez, ingratidão, desamor, hipocrisia e maldizer!
E aí, eu me transformo e me “apouco” de forma anormal,
aquietando-me perscrutador; tão só para aquiescer
na ocupação do mesmo espaço que outros ocupam, sentindo-me “desigual
V
entre iguais,” numa “íntima e sublime felicidade”, deleite inconfessável de viver
a sós comigo, sem excluir os outros, tratando-os de forma igual,
num “ensandecido mutismo”, “ouvindo sem os ouvir” e “olhando sem os ver”.
No passado e no presente, na minha visceral timidez lenitivo da minha solidão “imortal,”
na benfazeja procura de estar a sós com as “íntimas inquietudes do meu ser!”
AUGUSTO MOITA
Escrito em 22 novembro 2022